terça-feira, 27 de julho de 2010

Linguagem Clara

Interesso-me pelo diálogo com os cidadãos comuns, independente da formação escolar, religiosa, política ou outra diferente da minha. A troca de pontos de vista enriquece o conhecimento da realidade e ensina novas maneiras de agir de acordo com a compreensão geral para que as nossas ideias germinem no rítmo històricamente possível conservando o valor intrínseco dos seus princípios.
Julgo necessário traduzir as expressões que foram elaboradas pelo trabalho intelectual ao longo da História e que adquiriram conotações específicas para grupos sociais determinados em um momento dado, mas que diante da cultura popular geral tornam-se vagos e abstratos. Por exemplo, os conceitos de "revolução", de "Estado" ou de "instituições" frequentemente utilizados nos textos e discursos políticos como se não deixassem dúvidas quanto ao seu significado e transparência – quando sabemos que de um ponto de vista jurídico traduzem normas impostas pelo poder constituido, e de um ponto de vista democrático têm significados que inspiram a confiança do cidadão em uma ordem nacional que o protege socialmente. Contradições dialéticas.
Estes, e outros vocábulos do discurso político, são apresentados como "pacotes embrulhados em papéis transparentes ou translúcidos que se misturam com belas cores e brilhos" como se correspondessem à uma idéia universal e fixa construida ao longo da História da humanidade.
Revolução, remete vagamente para a Revolução Francesa mas também a Industrial, mal conhecidas, e Estado para o Governo e a administração social onde as instituições são os organismos de serviço público entendido como para o cidadão. Só nos damos conta de que existem conceitos diferentes quando o peso da lei revela que o sentido jurídico está preso à relação de poder onde o cidadão é peão e os seus conceitos democráticos são tratados como utopia e ingenuidade no melhor dos casos, podendo ser acusado de crime subversivo. Os conceitos carregam sempre sentidos dialèticamente opostos pela situação de classes sociais antagónicas no sistema estabelecido.
O vocábulo alma facilita o diálogo com as pessoas que não conservam o preconceito anti-religioso que reduz um conceito emocional a um significado eclesiástico teórico. A cultura popular confere à ideia de alma uma função emocional e também de essência física, como o sentido anima que produz o movimento vital. Caminha no sentido do divino, indispensável para os que não confiam no humano.
Ao pensar, ao fazer, ao criar algo novo, revolucionamos o que estava estabelecido. Mesmo sem destruir o antigo, adaptamos ao moderno. Surgem as resistências conservadoras, lutamos com as armas necessárias para vencer, atraimos outros que nos apoiam. Estamos totalmente empenhados, de corpo e alma, com força e com vontade, entregues à dinâmica da luta.
É o movimento atingindo as idéias, a cultura, o relacionamento humano, a posição social, a situação histórica, os sentimentos, os gestos, o comportamento, em nós que avançamos e no outro que coloca entraves, que receia, que paralisa, que luta contra. Ambos se definem, para a frente ou para trás, movendo-se ou parando. O que estava estabelecido deixou de estacionar, caminhou para diante ou para trás. Moveu-se sujeito aos impulsos da luta. Dialeticamente, a uma posição nova e uma oposição igualmente nova, mesmo que pretendendo ser imutável.

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